quarta-feira, 12 de outubro de 2011

o fel da solidão ..



Solidão é quando o coração, se não está vazio,
sobra lugar nele que não acaba mais.
Antônio Maria



Um abraço de alguém que ele amava, poderia ser a melhor coisa naquele momento. Ou a pior mentira. As vezes, ele pensava que não iria suportar mais se quer um minuto ali. Era como se os lugares que costumava frequentar, os amigos que costumava andar, as bebidas que costumava beber, não o satisfizesse mais. Não mais. Como se a vida que este costumava ter para se livrar do vazio de sua alma, fosse apenas algo superficial, e um tanto quanto supérfluo. E era, de fato. Todas as noites eram iguais. A saudade o incomodava. O fazia se sentir completamente sufocado, por ter mentido o tempo todo de ser alguém que de fato, nunca fora. Tudo o que teve um dia, agora, estava se desmanchando em pó. Sendo levado pelo vento. E se ele sumisse por um dia, ou por um ano ou pela vida inteira ninguém simplesmente notaria a sua falta? Sentia-se inaceitável em qualquer situação. Havia tristeza em seu olhar, e a dor aguda do vazio, o atormentava a todo instante. Como uma ferida aberta que nunca cicatrizava. Tantos sentimentos contraditórios. Tantas dúvidas, emoções que jamais vieram a tona. Palavras que nunca foram pronunciadas, seja por orgulho, por medo ou mesmo por não se importar. Seus amigos costumavam dizer que este parecia um zumbi. Sem sentimentos. Frio. Indiferente. Mal sabiam eles, que tudo o que ele queria, era um abraço. Um abraço de alguém que ele amava. Mas como poderia se sentir amado se havia esquecido o significado do amor próprio? Vivia escondendo ou pelo menos tentando esconder o coração. Como se essa fosse a melhor forma de se proteger das feridas que a vida poderia lhe fazer. Leve engano, meu caro, leve engano. A verdade é que, essa era apenas uma maneira eficiente de experimentar o fel da solidão. Para poder desfrutar do doce veneno, do nada que ele havia se tornado. Do nada que dia sim, dia não, o fazia feliz por alguns instantes. Mesmo que fosse para enganar a si mesmo. Mesmo que fosse para apostar o seu coração, num mero jogo de cartas. Ou até mesmo, a sua própria vida.


JAM
(16/09/10)

2 comentários:

Anônimo disse...

Que delícia de texto, Juliana. Amei.

Parabéns!

Solidão... É quando a gota do que vivemos vira uma orquestra na goteira da nossa nostalgia.

Ótima 5ª feira para você!

Gildney Oliveira disse...

Ju, belo texto.

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